O Projeto “Isso é que ela pensa” (“Woman in Mind”, de Alan Ayckbourn) é uma comédia em que a protagonista, Susan, uma mulher de classe média que, a fim de aliviar sua vida frustrante, começa a sonhar com uma família completamente diferente da sua. A ação se alterna entre o plano da realidade e o da fantasia, que vão gradualmente se confundindo como um reflexo do agravamento do estado mental de Susan, até o inevitável desfecho, quando o surreal toma conta e o colapso se completa. Denise Weinberg, atriz mais premiada de sua geração (2 Molière, 3 Mambembes, 2 APCA, um Shell, além de mais 5 prêmios em cinema, está a frente desse projeto com este fabuloso texto de Sir Alan Ayckbourn, renomado e importante nome da dramaturgia inglesa contemporânea, com mais de 60 peças encenadas pelo mundo inteiro, e infelizmente, raramente no Brasil. Por baixo da simples história de uma dona de casa, que acaba perdendo o controle da própria consciência ao buscar refúgio numa vida de sonho, a fim de tornar possível a realidade, esconde-se uma trama muito mais profunda, urdida por meio de incontáveis níveis de subjetividade, inerentes à própria natureza humana, e ainda mais específicos do universo feminino, como podemos constatar no belo filme de Cassavettes, “Mulher sob Influência” (Woman under Influence).
A comédia que em primeira instância entretém, serve justamente como rede para transportar de forma suave para dentro do labirinto infinito, alucinante e trágico da mente da protagonista. É esta discussão, sobre o tênue limite entre razão e loucura, real e imaginário, esta constante e cotidiana opção que somos obrigados a fazer entre verdade e mentira, seja no plano consciente ou inconsciente, o que de fato constitui a força motor deste projeto. Não é sempre que se tem a dádiva de poder trabalhar sobre um material dramático contemporâneo de tão boa qualidade e com profissionais de tal gabarito. Através deste mergulho vertical, à procura da verdade de cada um destes personagens, esperamos trazer à tona uma “fotografia” do profundo abismo sobre o qual, perigosamente, todos nós flutuamos.